JOSÉ PAULO PAES
José Paulo Paes deixou uma imensa contribuição à literatura. Poeta-operário, escreveu um número infindável de estudos sobre os mais diversos autores, legou-nos um conjunto de traduções primorosas ــ de Aretino a Konstantinos Kafávis, de W.H. Auden a J.K. Huysmans, de Williams Carlos Williams à poesia grega, fora o trabalho importante voltado para a poesia infanto-juvenil (talvez único em nossa literatura). Não bastasse isso, foi um dos nossos melhores poetas.
Poucos poetas produziram com tanta irreverência e liberdade crítica e formal. Dotado de uma vertical tendência ao epigrama, conseguiu conciliar qualidade e prazer. Que falta nos faz esse poeta infatigável!
BUCÓLICA
O camponês sem terra
Detém a charrua
E pensa em colheitas
Que nunca serão suas.
Detém a charrua
E pensa em colheitas
Que nunca serão suas.
(Epigramas, 1958)
n e g ó c i o
e g o
ó c i o
c i o
0
ó c i o
c i o
0
(Anatomias, 1967)
A MAIACÓVSKI
uns te preferem suicida
eu te quero pela vida
que celebraste na flauta
de uma vértebra patética
molhada no sangue rubro
de um crepúscujlo de outubro
(Anatomias, 1967)
À MODA DA CASA
feijoada
marmelada
goleada
quartelada
(Anatomias, 1967)
CANÇÃO DE EXÍLIO FACILITADA
lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
cá?
bah!
(Meia palavra, 1973)
TERMO DE RESPONSABILIDADE
mais nada
a dizer: só o vício
de roer os ossos
do ofício
já nenhum estandarte
à mão
enfim a tripa feita
coração
silêncio
por dentro sol de graça
o resto literatura
às traças!
(Meia palavra, 1973)
BRECHT REVISITADO
partido: o que partiu
rumo ao futuro
mas no caminho esqueceu
a razão da partida
(só perdemos
a viagem camaradas
não a estrada
nem a vida)
(Resíduo, 1980)
À TINTA DE ESCREVER
Ao teu azul fidalgo mortifica
registrar a notícia, escrever
o bilhete, assinar a promissória
esses filhos do momento. Sonhas
mais duradouto o pergaminho
onde pudesses, arte longa em vida breve
inscrever, vitríolo o epigrama, lágrima
a elegia, bronze a epopéia.
Mas já que o duradouro de hoje nem
espera a tinta do jornal secar,
firma, azul, a tua promissória
ao minuto e adeus que agora é tudo História.
(Prosas seguidas de Odes mínimas, 1992)
* Todos os poemas foram extraídos do livro Os melhores poemas de José Paulo Paes. Seleção de Davi Arrigucci Jr. 5ª ed. São Paulo: Global, 2003)
Caminhando lentamente por este sítio. No momento travo uma conversa com José Paulo Paes, lendo os 'meus poemas' que ele teve a ideia de escrever primeiro.
ResponderExcluirMÁGIC
ResponderExcluir( a josé paulo paes in memória )
zaz!
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cabrummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!
IN - VEN - ÇÃO!
SÉRVIO LIMA