MÁRIO PEDERNEIRAS
MÁRIO PEDERNEIRAS (Rio de Janeiro, 1868-1915)
A poesia do quotidiano da cidade do Rio de Janeiro permanece como a melhor contribuição desse poeta que já não é lido, apesar da presença da realidade urbana explorada à exaustão pelo Modernismo .
A
O melhor livro de Filosofia ...
Na sua Vida que palpita e atua,
Há todo um método de ensinamento ,
Ao que doutrina mágoa e sofrimento.
É nela que se iguala o rumo demarcado
Do homem feliz , sincero ou falso ,
E do grave senhor solene e douto ,
Ao indeciso rumo aventurado
Do monstro infeliz de pé descalço
E de sapato roto .
Caminho Errado
(fragmento)
Eu preferia ter nascido
Um pesado burguês redondo e manso,
Alimentado e rude;
Desses que vivem a vender saúde,
Cuja vida, incolor e sem sentido,
É um cômodo vale de descanso.
Dos que da farta messe dos acervos
Sentimentais, que lhes parecem fúteis,
E o gozo de viver tornam lerdo, enfadonho
Suprimem logo, por banais e inúteis,
O Sonho,
O Coração e os Nervos.
E assim vazios,
Só com o bem-estar e o asco
Dos outros bens, que o ouro lhes trouxe,
Vão por largos e plácidos desvios
Seguindo a vida, qual se a Vida fosse
A secular Estrada de Damasco.
Sem perceber, nem distinguir aspectos
De Luz, de Cor, que só parecem turvos
A seus olhos parados;
Que vivem como bem-aventurados
E que se são internamente curvos,
Nunca deixam de ser externamente retos.
Felizes os que assim nasceram
E que da Vida a perigosa aléia
Percorrem toda sem um desaponto ...
Viver assim... Sem Deus e sem Idéia,
Ou ter um Deus que receberam pronto
Idéias que os outros conceberam.
A esses não estorva o passo,
A almejada ração de uma alegria...
Não distinguem a Cor do Sol e do Mormaço.
E o Dia... é sempre o mesmo Dia.
In: GOLSTEIN, Norma . Do penumbrismo ao modernismo : o primeiro Bandeira e outros poetas significativos . São Paulo: Ática, 1983, p. 21.
Comentários
Postar um comentário