JUAN GELMAN















JUAN GELMAN


AMOR QUE SERENA, ¿TERMINA?


amor que serena, ¿termina?

¿empieza? ¿qué nueva

vejez le espera por vivir?

¿qué fulgor? amor asomándose


de sí mismo a sí mismo siendo

también memoria de sí

comiendo

de sí, ¿qué vieja


sombra le chupará la nuca? oh pestes

que visitaron mi país

atacaron se fueron

ajenas como el viento


DIZIS AVLAS CUN ÁRVULIS


dizis avlas cun árvulis

tenin folyas qui cantan

y páxarus

qui djuntan sol


tu silenziu

disparta

lus gritus

dil mundu?


DIZES PALAVRAS COM ÁRVORES


dizes palavras com árvores

têm folhas que cantam

e pássaros

que juntam sol


teu silêncio

desperta

os gritos

do mundo/


POEMA XVII


un venti di separadus

di bezus qui no mus diéramus

acama il trigu di tu ventre

sus asusenas cun sol


veni

o querré no aver nasidu

trayi tu agua clara

las ramas floreserán


mira istu:

soy um niniu rompidu

timblu nila nochi

qui cayi di mí


POEMA XVII


um vento de separados

de beijos que não nos demos

acalanta o trigo do teu ventre

suas açucenas com sol


vem

ou desejarei não haver nascido

traz tua água clara

os ramos florescerão


vê isto:

sou um menino quebrado

tremo na noite

que cai de mim


Os poemas acima foram transcritos do livro Amor que serena, termina?, edição bilíngüe publicada pela Editora Record, em 2001, com tradução e seleção de Eric Nepomuceno. As traduções foram revisadas por Chico Buarque de Hollanda. Reproduzi as traduções apenas dos poemas escritos em sefardita. Provavelmente Juan Gelman escreveu os 29 poemas em sefardita que compõem Dibaxu (Debaixo) num processo de apreensão lírica do exílio, buscando na velha sonoridade judaico-espanhola uma expressão poética capaz de traduzir a diáspora promovida pela ditadura argentina.

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