Elizabeth Bishop
The
Imaginary Iceberg
We’d rather have the iceberg than the ship,
although it meant the end of travel.
Although it stood stock-still like cloudy rock
and all the sea were moving marble.
We’d rather have the iceberg than the ship;
we’d rather own this breathing plain of snow
though the ship’s sails were laid upon the sea
as the snow lies undissolved upon the water.
O solemn, floating field,
are you aware an iceberg takes repose
with you, and when it wakes may pasture on your snows?
This is a scene a sailor’d give his eyes for.
The ship’s ignored. The iceberg rises
and sinks again; its glassy pinnacles
correct elliptics in the sky.
This is a scene where he who treads the boards
is artlessly rhetorical. The curtain
is light enough to rise on finest ropes
that airy twists of snow provide.
The wits of these white peaks
spar with the sun. Its weight the iceberg dares
upon a shifting stage and stands and stares.
This iceberg cuts its facets from within.
Like jewelry from a grave
it saves itself perpetually and adorns
only itself, perhaps the snows
which so surprise us lying on the sea.
Good-bye, we say, good-bye, the ship steers off
where waves give in to one another’s waves
and clouds run in a warmer sky.
Icebergs behoove the soul
(both being self-made from elements least visible)
to see them so: fleshed, fair, erected indivisible.
Tradução de Paulo Henriques Britto
O Iceberg Imaginário
O iceberg nos atrai
mais que o navio,
mesmo acabando
com a viagem.
Mesmo pairando
imóvel, nuvem pétrea,
e o mar um
mármore revolto.
O iceberg nos
atrai mais que o navio:
queremos esse
chão vivo de neve,
mesmo com as
velas do navio tombadas
qual neve
indissoluta sobre a água.
Ó calmo campo flutuante,
sabes que um
iceberg dorme em ti, e em breve
vai despertar e
talvez pastar na tua neve?
Esta cena um
marujo daria os olhos
pra ver. Esquece-se
o navio. O iceberg
sobe e desce;
seus píncaros de vidro
corrigem elípticas
no céu.
Este cenário
empresta a quem o pisa
uma retórica
fácil. O pano leve
é levantado por
cordas finíssimas
de aéreas
espirais de neve.
Duelo de argúcia
entre as alvas agulhas
e o sol. O seu
peso o iceberg enfrenta
no palco instável
e incerto onde se assenta.
É por dentro que
o iceberg se faceta.
Tal como joias
numa tumba
ele se salva
para sempre, e adorna
só a si, talvez
também as neves
que nos
assombram tanto sobre o mar.
Adeus, adeus,
dizemos, e o navio
segue viagem, e
as ondas se sucedem,
e as nuvens
buscam um céu mais quente.
O iceberg seduz
a alma
(pois os dois se
inventam do quase invisível)
a vê-lo assim:
concreto, ereto, indivisível.
One
Art
The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent,
I miss them, but it wasn’t a disaster.
- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disasters.
Tradução de Paulo Henriques Britto
Uma arte
A arte de perder
não é nenhum mistério;
tantas coisas
contêm em si o acidente
de perdê-las,
que perder não é nada sério.
Perca um
pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida,
a hora gasta bestamente.
A arte de perder
não é nenhum mistério.
Depois perca
mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes,
a escala subsequente
da viagem não
feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio
de mamãe. Ah! e nem quero
lembrar a perda
de três casas excelentes.
A arte de perder
não é nenhum mistério.
Perdi duas
cidades lindas. E um império
que era meu,
dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade
deles. Mas não é nada sério.
- Mesmo perder
você (a voz, o ar etéreo
que eu amo) não
muda nada. Pois é evidente
que a arte de
perder não chega a ser mistério
por muito que
pareça (Escreve!) muito sério.
In Poemas escolhidos / Elizabeth Bishop.
Seleção, tradução e textos introdutórios de Paulo Henriques Britto. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012.
José Antônio que prazer em ler os poemas hipnóticos de Elizabeth Bishop cheios de mistério, amargura e desencanto. Grata por compartilhar! Boa noite com poesia!
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