Anise Koltz
Anise Koltz nasceu em 1928, em Eich, Luxembourg, onde vive até hoje. Foi uma das fundadoras da Academia Europeia de Poesia, da qual é atualmente a vice-presidente, pertence ao Pen Club da Bélgica, à Academia Mallarmé de París e ao Institut Grand-Ducal dês Artes et Lettres. Apesar de mais de vinte livros publicados, nenhum deles foi lançado no Brasil Ganhou diversos prêmios, como o Blaise Cendrars (1991), o Grand Prix de Littérature française hors de France (1994), o Batty Weber, o Prix National de Littérature - Luxembourg (1996) e o Prix Apollinaire (1998).
POEMAS
Arte
poética
A poesia esburaca o
tecido da linguagem.
A escrita deserta
perpétuamente do seu espaço.
Cada palavra que
escolhemos é a renúncia de outra
que nos teria
escolhido.
A verdade é apenas
uma partilha de ilusões.
Há fronteiras
interditas ao homem, há lugares
onde a vida e a morte
trocam os seus atributos.
Homem-ponte, passo de
uma memória a outra.
E se Deus fosse a sua
própria vítima?
O homem criou o tempo
para justificar a sua presença.
Para justificar a sua
ausência, criou a eternidade.
Deus existe fora do
esquecimento, fora da memória,
mas a ambos
atravessa.
O silêncio é o
encontro que a palavra recusa.
Quanto mais se ama,
mais a gravitação diminui.
In Cantos de Recusa, tradução colectiva* Casa
de Mateus, revista e apresentada por Casimiro de Brito, 1994.
Tradutores: Casimiro de Brito / Egito
Gonçalves / Fernando Echevarría / Fernando Luís / Fernando Pinto do Amaral /
José Blanc de Portugal / Laureano Silveira / Maria de Lurdes Guimarães / Pedro
Tamen.
* * *
Todas as traduções abaixo são minhas
Em um coração
cada pedaço
está dedicado
a um deus
diferente.
Aprendo suas ladainhas
e lhes arremesso
incenso
Ninguém o
preocupa
A terra
gira e zumbe
como um inseto monstruoso
* * *
Me calo
meus poemas
armazenados
em silos
apodrecem
A planta
dos meus pés
não lança
raízes
* * *
Peixes abissais
as frases
morrem
quando sobem
à superfície
* * *
Me revolto
meu coração golpeia
o interior do meu corpo
como sapatos
de milhares de manifestantes
Deus está do lado
dos vencedores
seus anjos planam no céu
com os abutres
* * *
Marcher
sans
rien atteindre
jusqu’à
devenir chemin
Andar
sem chegar a nada
até converter-se em caminho
*
* *
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