Gary Snyder
Um
dos fundadores e um dos últimos representantes vivos do movimento beat – o mais
importante movimento literário e comportamental do pós-guerra nos Estados, o
poeta, antropólogo, tradutor e ensaísta Gary Snyder pertence a uma estirpe de
intelectual cada vez mais rara em nossos dias: a do poeta público, imerso nas
questões de seu tempo, servindo de intérprete ou xamã de nossa complexa
paisagem cultural. No seu caso, defende seu papel tem sido o de ser uma
testemunha da natureza, do mundo não humano.
Ele
já foi chamado de “o Thoreau da geração beat”. Faz sentido.
Incansável ativista ecológico, Snyder vem repetindo pelo menos desde os anos 50
e 60 um mantra que se tornou comum nos dias de hoje: devido à nossa obsessão
com o consumo e materialismo e nossa violência sistemática contra a natureza
(ou o que ele chama de “guerra contra a natureza”) o ser humano está com os
dias contados.
Incluindo
gêneros como poesia, ensaio, diário, tradução e prosa, sua obra corresponde aos
principais movimentos contraculturais americanos: dos beats, nos anos 50 e
hippies, nos anos 60, até os movimentos ecológicos dos anos 80 (como o Ecologia
Profunda) e os movimentos antiglobalização dos anos 90. Sua literatura está
marcada por uma assimilação e um diálogo profundo com as religiões e as
culturas do Extremo Oriente e dos índios norte-americanos, além de uma ênfase
na ligação entre ética e estética num grau máximo. Poesia, na sua definição, é
“um instrumento de sobrevivência ecológica”, “o uso inspirado e hábil da voz e
da linguagem para incorporar estados mentais raros e poderosos”. Sua poesia
meditativa soube fundir o legado de Whitman, Thoreau, Ezra Pound, William Carlos
Williams com os preceitos básicos do budismo, da filosofia e da poesia
oriental, além da mitologia dos índios norte-americanos. Poucos fizeram tal
fusão com tamanha competência.
Desde
que foi celebrado como herói contracultural no romance The Dharma Bums (Os Vagabundos Iluminados), de Jack Kerouac (1958),
na figura do personagem Japhy Ryder, muita água rolou: depois de ser
marinheiro, lenhador, guarda florestal e passar mais de dez anos vivendo no
Japão como um monge zen-budista, traduziu poesia japonesa e chinesa (Han Shan,
entre outros), viajou pela Índia e retornou para os Estados Unidos. Depois,
construiu seu rancho nas montanhas de Sierra Nevada, na Califórnia, onde vive
até hoje, teve filhos, ganhou o Prêmio Pulitzer em 1975 (por seu livro Turtle
Island), e foi membro do conselho de artes da Califórnia. Atualmente, Snyder
faz leituras e conferências por todo o país.
Texto
retirado de Protopia.
LMFBR
Death himself,
(Liquid Metal Fast Breeder Reactor)
stans grinning, beckoning.
Plutonium tooth-glow.
Eyebrows buzzing.
Strip-mining scythe.
(Liquid Metal Fast Breeder Reactor)
stans grinning, beckoning.
Plutonium tooth-glow.
Eyebrows buzzing.
Strip-mining scythe.
Kālī dances on the
dead stiff cock.
Aluminium beer cans, plastic spoons,
plywood veneer, PVC pipe, vinyl seat covers,
don’t exactly burn, don’t quite rot,
flood over us,
plywood veneer, PVC pipe, vinyl seat covers,
don’t exactly burn, don’t quite rot,
flood over us,
robes and garbs
of the Kālī-yūga
of the Kālī-yūga
end of days.
* * *
Tradução: Fabio Malavoglia
RRRML
A morte em si,
(Reator de Resfriamento Rápido por Metal Líquido)
gargalha, de pé, chamando.
Dente de esmalte-plutônio.
Supercílios zumbindo.
Cimitarra de talho fino.
(Reator de Resfriamento Rápido por Metal Líquido)
gargalha, de pé, chamando.
Dente de esmalte-plutônio.
Supercílios zumbindo.
Cimitarra de talho fino.
Kālī dança sobre a
rola dura e morta.
Alumínio de latas, plástico de colheres,
compensado em folhas, PVC de canos, vinil de capas de assentos,
não queimam bem, e nem sequer apodrecem,
vertem-se sobre nós.
compensado em folhas, PVC de canos, vinil de capas de assentos,
não queimam bem, e nem sequer apodrecem,
vertem-se sobre nós.
roupas e mantos
do Kālī-yūga
do Kālī-yūga
fim dos dias.
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