Walter Benjamin
Jean Selz (left), Paul
Gauguin (the painter’s grandson), Benjamin, and fisherman Tomás Varó (with hat)
sailing in the bay of San Antonio, May 1933.
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Passagem pela Rua de mão única
Certos textos são assustadores pelas semelhanças que despertam. Hoje reencontrei Walter Benjamin numa esquina da Rua de mão única.
- Troque a última palavra da nossa conversa por "brasileiros" - disse-me baixinho ao nos despedirmos.
"Um
estranho paradoxo: as pessoas só têm em mente o mais estreito interesse privado
quando agem, mas ao mesmo tempo são determinadas mais que nunca em seu
comportamento pelos instintos da massa. E mais que nunca os instintos de massa
se tornaram desatinados e alheios à vida. Onde o obscuro impulso do animal -
como o narram inúmeras anedotas - encontra a saída do perigo que se aproxima e
que ainda parece invisível, ali essa sociedade, da qual cada um tem em mira
unicamente seu próprio inferior bem-estar, sucumbe, como massa cega, com
inconsciência animal, mas sem o inconsciente saber dos animais, a cada perigo,
mesmo o mais próximo, e a diversidade de alvos individuais se torna irrelevante
perante a identidade das forças determinantes. Repetidamente se mostrou que seu
apego à vida habitual, agora já perdida há muito tempo, é tão rígido que
frustra a aplicação propriamente humana do intelecto, a previdência, mesmo no
perigo drástico. De modo que nela a imagem da estupidez se completa:
insegurança, perversão mesmo, dos instintos vitalmente importantes, e
impotência, declínio mesmo, do intelecto. Essa é a disposição da totalidade dos
burgueses alemães."
In Rua de mão única. São Paulo:
Brasiliense, 1987, p.21.
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