Denise Levertov
Que
eu saiba, Denise Levertov ainda não teve um livro publicado no Brasil, apesar
da alta qualidade de sua poesia. Só consegui referência à antologia “Quingumbo
─ Nova Poesia Norte-Americana”, edição bilíngue, que acredito não ser mais
encontrada no mercado. Nela foi publicada a tradução do poema abaixo, feita por
Ary Gonzalez Galvão.
Os
mudos
Esses suspiros que os
homens
soltam quando passam por uma mulher na rua
ou nas escadas do metrô
soltam quando passam por uma mulher na rua
ou nas escadas do metrô
a fim de lhe dizer
que é uma fêmea
pois assim sentem suas carnes,
pois assim sentem suas carnes,
são talvez espécie de
som,
canção muito feia, feia mesmo, sussurrada
por um pássaro de língua serrada
mas feita para música?
canção muito feia, feia mesmo, sussurrada
por um pássaro de língua serrada
mas feita para música?
Ou são
grunhidos
de surdos-mudos encurralados numa sala que
aos poucos se enche de fumaça?
de surdos-mudos encurralados numa sala que
aos poucos se enche de fumaça?
Talvez as duas
coisas.
Tais homens parecem
que
só sabem soltar tais sussurros,
no entanto uma mulher, apesar de si mesma,
só sabem soltar tais sussurros,
no entanto uma mulher, apesar de si mesma,
sabe que lhes chama
atenção:
se ela não tivesse graça
passariam por ela em silêncio:
se ela não tivesse graça
passariam por ela em silêncio:
logo, não é só porque
ela seja
um buraco quente. É uma palavra
um buraco quente. É uma palavra
em língua sofrida,
longe de ser
primitiva nem primária;
língua prenhe, doentia, senilizada,
primitiva nem primária;
língua prenhe, doentia, senilizada,
em decrepitude. Ela
deseja
desfazer-se do sussurro, repug-
nada, mas não consegue,
desfazer-se do sussurro, repug-
nada, mas não consegue,
o sussurro prossegue
zurrando em seus ouvidos,
muda o ritmo de seus passos,
os cartazes rasgados em corredores que ecoam,
muda o ritmo de seus passos,
os cartazes rasgados em corredores que ecoam,
verbalizam-no,
ele
se estremece e range à chegada do trem.
O pulso dela sombriamente
se estremece e range à chegada do trem.
O pulso dela sombriamente
acelerava-se, mas os
vagões
param estridentes
enquanto sua compreensão
param estridentes
enquanto sua compreensão
prossegue
transladando
“Vida após vida após vida prossegue
“Vida após vida após vida prossegue
sem poesia,
sem decência,
sem amor”.
sem decência,
sem amor”.
Tradução de Ary
Gonzalez Galvão. In: o fingidor. Disponível em:< http://ofingidor2008.blogspot.com.br/…/poesia-em-traducao_1…>.
*
* *
The
mutes
Those groans men
use
passing a woman on the street
or on the steps of the subway
passing a woman on the street
or on the steps of the subway
to tell her she is a
female
and their flesh knows it,
and their flesh knows it,
are they a sort of
tune,
an ugly enough song, sung
by a bird with a slit tongue
an ugly enough song, sung
by a bird with a slit tongue
but meant for music?
Or are they the
muffled roaring
of deafmutes trapped in a building that is
slowly filling with smoke?
of deafmutes trapped in a building that is
slowly filling with smoke?
Perhaps both.
Such men most
often
look as if groan were all they could do,
yet a woman, in spite of herself,
look as if groan were all they could do,
yet a woman, in spite of herself,
knows it’s a
tribute:
if she were lacking all grace
they’d pass her in silence:
if she were lacking all grace
they’d pass her in silence:
so it’s not only to
say she’s
a warm hole. It’s a Word
a warm hole. It’s a Word
in grief-language,
nothing to do with
primitive, not an ur-language;
language stricken, sickened, cast down
primitive, not an ur-language;
language stricken, sickened, cast down
in decrepitude. She
wants to
throw the tribute away, dis-
gusted, and can’t,
throw the tribute away, dis-
gusted, and can’t,
it goes on buzzing in
her ear,
it changes the pace of her walk,
the torn posters in echoing corridors
it changes the pace of her walk,
the torn posters in echoing corridors
spell it out,
it
quakes and gnashes as the train comes in.
Her pulse sullenly
quakes and gnashes as the train comes in.
Her pulse sullenly
had picked up
speed,
but the cars slow down and
jar to a stop while her understanding
but the cars slow down and
jar to a stop while her understanding
keeps on
translating:
‘Life after life after life goes by
‘Life after life after life goes by
without poetry,
without seemliness,
without love.
without seemliness,
without love.
The mutes. In: Academy
of American Poets. Disponível em:<https://www.poets.org/poetsorg/poem/mutes>.
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