Poema Mongol - Xianbei [Xianbi] - (cerca de 546)



























Poema Mongol - Xianbei [Xianbi] - (cerca de 546?)


Canção de Tölös *


À margem do Tölös
No sopé dos Montes Sombrios
O céu é uma yurta
Cobre o plaino — dos quatro cantos.
O céu é azul, azul
A planura vasta, infinita
Quando o vento sopra e a erva curva
Vê-se — o gado, e as cabras.



"Poemas anónimos" (Turcos, Mongóis, Chineses e incertos), Seleção, introdução e tradução de Gil de Carvalho. Lisboa, Assírio & Alvim, 1989

* Nota do autor na p. 36


É o mais célebre poema «turco-mongol» transcrito para chinês — se é que o processo foi assim tão simples — e somente nesse registo existe. (...) terá sido Hülü Qin (488-567) a cantá-lo ou recitá-lo diante do Imperador «chinês» no ano de 546. É tão imediatamente estranho à poesia da China (ou a dominante dela) que se tornou o «poema dos Bárbaros» por excelência e naquela tipificação chinesa deles que perdura hoje ainda.
A estepe, a yurta, o céu como tenda, a terra a perder de vista. Estes motivos são encontráveis numa vasta área centro-asiática e estão de algum modo em muita poesia chinesa. Mas aquela tenda e o azul — também cúpula ou abóbada — estão igualmente em Samuel Hanagid (993-1056), no persa Khayyam, em grandes poetas turcos modernos, Yahya Kemal, Orhan Veli Kanik (1914-1950). E, diferentemente, em Philip Larkin. Este ponto de fuga na poesia da China é observável em alguns poemas Yüan, a dinastia Mongol (1234-1368); a estepe e a yurta comparecem também em «poemas de fronteira», e em Nara Sindge, um Manchu, mas de «inteira» cultura chinesa. Se o poema turco ou mongol é tantas vezes de guerra ou da Natureza, esta comparece aqui em toda a sua infinita «música» e «ondulação».
É uma pequena saudação grandiosa para estes espaços imensos.


por Gil de Carvalho, "Poemas anónimos" (Turcos, Mongóis, Chineses e incertos), Assírio & Alvim

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