Guilherme Gontijo Flores
Poesia Brasileira do Século XXI - 15
Guilherme Gontijo Flores (Brasília, 1984) é poeta, tradutor e professor da UFPR; autor do livro brasa enganosa (Patuá, 2013, finalista do Prêmio Portugal Telecom de poesia), do poema-site Tróiades - remix para o próximo milênio (www.troiades.com.br) e de carvão :: capim (Editora 34, 2018). Publicou traduções de As janelas, seguidas de poemas em prosa franceses, de Rainer Maria Rilke (em parceria com Bruno d'Abruzzo), d'A anatomia da melancolia, de Robert Burton, em 4 volumes (prêmios APCA e Jabuti de tradução), e das Elegias de Sexto Propércio. Participa do blog coletivo escamandro (www.escamandro.wordpress.com).
Os poemas publicados aqui pertencem a livro brasa enganosa.
Guilherme Gontijo Flores (Brasília, 1984) é poeta, tradutor e professor da UFPR; autor do livro brasa enganosa (Patuá, 2013, finalista do Prêmio Portugal Telecom de poesia), do poema-site Tróiades - remix para o próximo milênio (www.troiades.com.br) e de carvão :: capim (Editora 34, 2018). Publicou traduções de As janelas, seguidas de poemas em prosa franceses, de Rainer Maria Rilke (em parceria com Bruno d'Abruzzo), d'A anatomia da melancolia, de Robert Burton, em 4 volumes (prêmios APCA e Jabuti de tradução), e das Elegias de Sexto Propércio. Participa do blog coletivo escamandro (www.escamandro.wordpress.com).
Aos
deuses dos mortos
élia lélia críspide
nem homem nem mulher
nem andrógina
nem moça nem rapaz
nem velha
nem pura nem puta nem
pudica
mas tudo
morreu
nem de ferro nem de
fome nem de veneno
nem de fogo nem de
peste
mas de tudo
nem no céu nem na
terra nem na água
mas em toda parte
jaz
lúcio agatão prisco
nem marido nem amante
nem amigo
nem sofrendo nem
louvando nem chorando
este nem pedra nem
pirâmide nem sepulcro
mas tudo
sabe & não sabe
a quem dedica
este é o sepulcro que
não tem cadáver
dentro
este é o cadáver que
não tem sepulcro
fora
mas é cadáver &
sepulcro
em si
*
* *
NA TRISTEZA DOS OLHOS
calados da noite
rubente ensaia
despetalar-se
a chaga de um
sorriso
*
* *
Arquitetura
The imperfect is our
paradise.
Wallace Stevens
mas sobretudo
preparar a brita
que brita não é calma
& controlada
conforme pedra ou
carne
é pesada
ainda que tratável
quando escrita
melhor
do sem sentido é que ela incita
uma poética
a partir do nada
& assim se assoma
ainda que calada
uma estrutura armada
com bauxita
agora venha vida
venha dor
nada se negue
à sua arquitetura
que busca simetria em
sua sina
mas não prevê que o
risco
de uma flor
– coisa sem nome
que sequer perdura –
possa brotar nas
frestas
da ruína
*
* *
BRASA ENGANOSA
debaixo das cinzas
saudade
quase chama corpo
ausente
rosa encarnada
estalando
na carne do éter
como se cada
outrora de repente
merecesse ser
novamente
exatamente
agora
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