ANTÔNIO CARLOS SECCHIN
Antônio Carlos Secchin nasceu no Rio de Janeiro, em 1952. É professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ e membro da Academia Brasileira de Letras. Estudioso de João Cabral de Melo Neto, tem um livro fundamental sobre o poeta pernambucano: João Cabral: a poesia do menos.
Obra poética:
A ilha. Edição particular, 1971.
Ária de estação. Livraria São José, 1973.
Elementos. Editora Civilização Brasileira, 1983.
Diga-se de passagem. Edições Ladrões de Fogo, 1988.
Todos os ventos. Editora Nova Fronteira, 2002.
Poema para 2002 (livro-objeto). Cacto Arte e Ciência, 2002.
"O menino se admira..."
O menino se admira no retrato
e vê-se velho ao ver-se novo na moldura:
é que o tempo, com seu fio mais delgado,
no rosto em branco já bordou sua nervura.
E por mais que aquele outro não perdure,
quase sombra no relâmpago desse ato,
ele há de ver-se mais antigo no futuro,
vendo ver-se no menino do retrato.
É que o tempo, de tocaia em cada corpo,
abastece a manhã com voz serena,
que pouco a pouco se transmuda em voz de corvo,
na gula aguda de ficar sozinho em cena.
A moldura vazia denuncia o intervalo:
sobra o tempo, e nada ou ninguém para habitá-lo.
(p. 15)
Obra poética:
A ilha. Edição particular, 1971.
Ária de estação. Livraria São José, 1973.
Elementos. Editora Civilização Brasileira, 1983.
Diga-se de passagem. Edições Ladrões de Fogo, 1988.
Todos os ventos. Editora Nova Fronteira, 2002.
Poema para 2002 (livro-objeto). Cacto Arte e Ciência, 2002.
"O menino se admira..."
O menino se admira no retrato
e vê-se velho ao ver-se novo na moldura:
é que o tempo, com seu fio mais delgado,
no rosto em branco já bordou sua nervura.
E por mais que aquele outro não perdure,
quase sombra no relâmpago desse ato,
ele há de ver-se mais antigo no futuro,
vendo ver-se no menino do retrato.
É que o tempo, de tocaia em cada corpo,
abastece a manhã com voz serena,
que pouco a pouco se transmuda em voz de corvo,
na gula aguda de ficar sozinho em cena.
A moldura vazia denuncia o intervalo:
sobra o tempo, e nada ou ninguém para habitá-lo.
(p. 15)
Artes de amar
paixão e alpinismo
sensação simultânea
de céu e abismo
paixão e astronomia
mais do que contar estrelas
vê-las
à luz do dia
amor antigo e matemática
equação rigorosa:
um centímetro de poesia
dez quilômetros de prosa
(p. 25)
Linguagens
Percebi que o vôo negro dessa hipálage
beijava o mel dos lábios da metáfora,
e mais beijara, se não fora a enálage,
e mais revoara, se não fosse a anáfora.
Chorei mil mares profundos de hipérbole,
duas velas cortaram a metonímia,
enquanto o pé da catacrese andava
no compasso bem toante dessa rima.
Verteu prantos a anímica floresta,
mas nós entramos dentro do pleonasmo,
'stamos em pleno oceano de uma aférese...
Vai-se o expletivo, mais um e outro mais...
Os poetas, nós somos muito silépticos;
mas os poemas, elípticos demais.
(p. 50)
Os poemas acima pertencem ao livro 50 poemas escolhidos pelo autor, publicado pelas Edições Galo Branco, Rio de Janeiro, em 2006.
paixão e alpinismo
sensação simultânea
de céu e abismo
paixão e astronomia
mais do que contar estrelas
vê-las
à luz do dia
amor antigo e matemática
equação rigorosa:
um centímetro de poesia
dez quilômetros de prosa
(p. 25)
Linguagens
Percebi que o vôo negro dessa hipálage
beijava o mel dos lábios da metáfora,
e mais beijara, se não fora a enálage,
e mais revoara, se não fosse a anáfora.
Chorei mil mares profundos de hipérbole,
duas velas cortaram a metonímia,
enquanto o pé da catacrese andava
no compasso bem toante dessa rima.
Verteu prantos a anímica floresta,
mas nós entramos dentro do pleonasmo,
'stamos em pleno oceano de uma aférese...
Vai-se o expletivo, mais um e outro mais...
Os poetas, nós somos muito silépticos;
mas os poemas, elípticos demais.
(p. 50)
Os poemas acima pertencem ao livro 50 poemas escolhidos pelo autor, publicado pelas Edições Galo Branco, Rio de Janeiro, em 2006.
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