LINA ZERÓN

Para ampliar a divulgação no Brasil de sua obra, reproduzi ainda mais um poema da sua página na internet - http://www.linazeron.com/ -, site que recomendo a todos os amantes de poesia.















Casa, de José Leonilson


A CASA


Chegou o momento de partir
o lar em dois.

Bem:

Comecemos pelos rincões onde as aranhas
teceram também sua história.
Falemos das paredes e seus retratos.
Qual escolhes?
O do dia das bodas,
o retrato da menina,
ou o das férias no verão?
Quero o antigo aparador
para recordar as refeições familiares.

Olha a casa:
permanece aí
de pé
sem alma porém.

Com qual alcova desejas ficar?
Aquela onde os gemidos
foram algumas vezes música perfeita?
Ou o quarto azul
onde a cama lançou raízes para sempre?
Ou o jardim
onde os sorrisos ainda se balançam?

Desejo a varanda,
essa plataforma vermelha de minúsculos ladrilhos
onde chuvas e pombas encontram seu refúgio,
onde ainda transpiram as estrelas
e não há sombra que oculte as traições.

Brindo-te com os espelhos
saturados de sussurros,
ecos familiares, rostos desfigurados
hoje se esvaindo em lamentos.

Mas tens razão:
talvez aqui já nada nos retenha.
Chegamos talvez à fronteira
entre o amor que titubeia e as cinzas.

Pensando bem
não posso partir em duas a casa.
Ela é inteira tua
e as promessas de sublimes futuros.

Como velhas cortinas
presenteio-te o que fica:
o céu sombrio
e este vento desenredado
que deixaste ao fechar a porta principal.

Traducción: Eliane Fonseca


Vino Rojo, Ediciones Unión, La Habana Cuba, 2003












CORTESANA


Soy la mujer que duerme en la jaula con los leones
al ponerse el sol.
Carne cruda como de sus pestilentes fauces
lamo sus recovecos denigrantes
y sin importarles, prueban cada mes mi sangre.

Me he dejado ultrajar por conveniencia,
soy mansa por una retribución,
abro mis posiciones
para conseguir prodigios mayores,
mejores pagas.

Todas las noches meto al sol en mi cama
y caliento deshilachados cuerpos.
A veces suplico ternura desde el fondo de mi alma,
desde el encierro de mi jaula
repleta de vacíos inconmensurables,
pero ellos no escuchan.

El mundo me desprecia,
yo lo ignoro.
Vivo para alimentar a las bestias
con mi carne,
soy libre de volar si quisiera,
de escapar,
mas no tengo a donde ir...
Pertenezco a esta jaula.


Del libro: Moradas Mariposas, Ed. Unión y UNEAC, La Habana, Cuba, 2002

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