ALFABERTO PÓS-GALÁTICO


Evan Holloway (EUA - 1967) - Book, 2004, escultura, metal, plaster and paint



Zantonc, o enigmático e único colaborador desse blog, enviou sua última produção (?). Mandou também um longo e tedioso manifesto em que defende uma poesia contra a leitura, pregando a destruição de qualquer legibilidade. Sustenta que por trás de todas as formas de entendimento subjaz o instinto dominador, manipulador, pelo qual a comunicação revela-se não um processo de troca, mas de luta feroz por domínio. O outro, aos seus olhos, é alvo. Destruir a legibilidade é inviabilizar a transformação do leitor em vítima e dar-lhe a única coisa que pode ser oferecida pela poesia com honestidade - nada.

Claro que joguei o manifesto na lixeira. Todos manifestos são declarações inócuas, redigidas em estilo grandiloquente e esquizofrênico. Além disso, já estamos no século XXI.

Acredito que Zantonc esteja internado em alguma instituição perfeitamente inútil à atividade de recuperá-lo. Recuperar para quê? Para esse circo de horrores denominado realidade? Para essa terra de corruptos e canalhas travestidos de autoridades? Como amigo de Zantonc, a quem defendo de armas nas mãos, quero tornar público o meu protesto contra a enfadonha leitura do atual diz/curso poético, a sofisticação técnica com que se diz coisa alguma, a elegância das referências inodoras e a poética rançosa das evidências, da flor do óbvio, e do caralho a quatro, desses poetas citacionistas e situacionistas, fugitivos da maldição poética, que agora desfrutam o ar burocráticos de empregos universitários, fanchones da nova ordem mundial, carreiristas do vento mobilizados pelo pestilência do umbigo e o fedor do capitalismo decadente.

Desculpe, leitor, passei mal, vomitei formas metapoéticas e novos poetas franceses. Não se preocupe, vou tomar meu remedinho.


ALF@BERTO PÓS-GALÁTICO

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