PAUL VERLAINE
Paul-Marie Verlaine (1844-1896) foi um dos integrantes da “trindade sagrada do simbolismo” na França, ao lado de Stéphane Mallarmé e Arthur Rimbaud. Lembrado por sua vida boêmia e por sua relação amorosa com Rimbaud, Verlaine criou uma obra poética marcada pela musicalidade, “impregnada da vaga sedução lunar das coisas antes sugeridas do que ditas, mais musicadas do que escritas”, no dizer de Onestaldo Pennafort. Seu lirismo evanescente e musical abriu novos caminhos para a poesia francesa; no entender de Gilberto Mendonça Teles, seu poema “Art poétique” “ foi o ponto de partida da funda aventura simbolista”. Publicou, entre outros, os livros Poèmes saturniens (1866), Fêtes galantes (1869), Romances sans paroles (1874), Sagesse (1880), Jadis et naguère (1884) e Parallèlement (1889). De sua produção em prosa, destaca-se o ensaio “Les poètes maudits” (1884), importante para o reconhecimento dos poetas citados (entre eles, Corbière, Rimbaud e Mallarmé, além do próprio autor, aqui denominado “Pauvre Lélian”). Verlaine foi eleito, em 1894, “Príncipe dos poetas” franceses.*
* Nota escrita por Marcelo Tápia para a pequena antologia de poemas de Verlaine publicada pela Editora Hedra, em 2009, intitulada A voz dos botequins e outros poemas, com tradução de Guilherme de Almeida.
Verlaine e Rimbaud
ART POÉTIQUE
ART POÉTIQUE
a Charles Morice
De la musique avant toute chose,
Et pour cela préfère l’Impair
Plus vague et plus soluble dans l’air,
Sans rien en lui qui pèse ou qui pose.
Il faut aussi que tu n’ailles point
Choisir tes mots sans quelque méprise:
Rien de plus cher que la chanson grise
Ou l’Indécis au Précis se joint.
C’est des beaux yeux derrière des voiles,
C’est le grand jour tremblant de midi,
C’est, par un ciel d’automne attiédi,
Le bleu fouillis des claires étoiles!
Car nous voulons la Nuance encor,
Pas la Couleur, rien que la Nuance!
Oh! la Nuance seule fiance
Le rêve au rêve et la flûte au cor!
Fuis du plus loin la Pointe assassine,
L’Esprit cruel et le Rire impur,
Qui font pleurer les yeux de l’Azur,
Et tout cet ail de basse cuisine!
Prendes l’éloquence et tords-lui son cou!
Tu feras bien, en train d’énergie,
De rendre un peu la Rime assagie.
Si l’on n’y veille, elle ira jusqu’où?
Oh! qui dirá les torts de la Rime?
Quel enfant sourd ou quel nègre fou
Nous a forgé ce bijou d’un sou
Qui sonne creux et faux sous la lime?
De la musique encore et toujours!
Que ton vers soit la chose envolée
Qu’on sent qui fuit d’une âme en allée
Vers d’autres cieux à d’autres amours.
Que ton vers soit la bonne aventure
Éparse au vent crispé du matin
Qui va fleurant la menthe et le thym…
ARTE POÉTICA *
a Charles Morice
Música acima de qualquer cousa,
E prefere o Ímpar, menos vulgar,
Que é bem mais vago e solúvel no ar,
Que nada pesa e que em nada pousa.
É bom também que saibas medir
Teus termos, não sem certo descuido:
Nada melhor do que o poema fluido
Que ao Indeciso o Preciso unir.
É um lindo olhar entre rendas raras,
É a luz que treme ao sol vertical,
É, por um céu de calma outonal,
A mescla azul das estrelas claras!
Nós só queremos o meio tom,
Nada de Cor, somente a Nuança!
Oh! A Nuança é que faz a aliança
Do sonho ao sonho e do som ao som!
Evita sempre a Ponta daninha,
O cruel Espírito e o Riso alvar,
Que apenas fazem o Azul chorar,
E esse alho, enfim, de baixa cozinha!
Toma a eloquência e esgana-a! Farás
Bem em agir energicamente,
Tornando a Rima um tanto obediente.
Quem sabe lá do que ela é capaz?
Oh! quem diria os males da Rima?
Que criança surda, ou negro imbecil
Terá forjado essa joia vil
Que soa falsa e vã sob a lima?
Música, sempre e cada vez mais!
Seja o teu verso a cousa evolada
Que vem a nós de uma alma exilada
Em outros céus para outros ideais.
Seja o teu verso a boa aventura
Esparsa ao áspero ar da manhã,
Que vai cheirando a giesta e hortelã...
E tudo mais é literatura.
* Tradução de Guilherme de Almeida
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