FELIZ ANO-NOVO
Desejo a todos os poemarginautas um 2011 repleto de poesia, que todos sejam infectados pela alquimia da palavra, que as bolsas explodam e os governos se fodam, que os exércitos acabem , que os banqueiros virem mendigos e que os líderes religiosos larguem as riquezas e a hipocrisia. A poesia é a única possibilidade de nos reinventarmos humanos. Obrigado a todos os visitantes, especialmente, a todos os seguidores do mundo afro-luso-hispânico. A todos amigos de Poemargens deixo, como um beijo, as precisas e preciosas palavras de Gullar.
ANO-NOVO
Ferreira Gullar
Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça
nada ali indica
que um ano-novo começa.
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa na esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta).
[em Barulhos]
"A poesia é a única possibilidade de nos reinventarmos humanos" - Feliz ano todo! Abraços, Nydia.
ResponderExcluirobrigada pelo convite.. amei te ler..como começarmos um ano novo se não o começarmos em nosso coração? perfeito..para se pensar e reletir.. parabens..beijo
ResponderExcluirGullar é um dos nossos maiorais; gostaria de ver mais textos dele neste espaço.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMarcelino, acho que Gullar - como outros grandes poetas da língua portugusa - merece um espaço exclusivo. Pode deixar que em breve, aos poucos, postarei mais textos desse poeta extraordinário. Minha proposta é modesta e complexa simultaneamente. Primeiro, por não ter na verdade proposta alguma. Segundo, esse não ter proposta não engana nem a minha sombra. Posto poemas sem nenhum padrão organizado, ao sabor de movimentos aleatórios. Terceiro, investindo no múltiplo e na extensão, há uma nítida linha de desequilíbrio, com grandes e nem tão grandes poetas assim (para usar um eufemismo), todos, no entanto, por qualquer razão, estética ou não, me afetaram, me tocaram, me interessaram em determinado momento. Aliás, a leitura não é exercício de fruição de obras-primas, mas um olhar que se estende a múltiplos universos textuais.Alguns mesmo são descobertas recentes, últimas leituras, redescobertas. Poemargens mantém-se fiel à proposta do blog: poesia viva de qualquer época a qualquer momento em qualquer lugar sob quaisquer circunstâncias.
ResponderExcluirObrigado pela frequência. Até metade de fevereiro você encontrará mais Gullar por aqui.
Um abraço
tua imagem
ResponderExcluiro olhar promissor
transcendeu o verso mudo
a imagem saindo da fotografia
em preto e branco assim como a vida
virou olhos de jade duas pérolas preciosas
querendo partir-me para sempre de si mesma
ao meio o ventre este que te carrega a(té) o fim
tremo : trema não temas ferrugens entre os olhos fios fendas
são espelhos abrindo os gestos em ti tão
reveladores ancorada sobre o pulso
escorrendo entre os dedos e ardem
numa diáspora de dor onde ao avesso
sem medo beijavas o vento teus cabelos
pulsando suspiros a boca pulsando
sem trégua do olhar pulsando
cuja imagem preciso pulsar
o corpo o olhar a boca