Antônio Cícero
Quatro poemas do último livro de Antônio Cícero - Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012.
Mark Rothko |
Balanço
A infância não foi uma manhã de sol:
demorou vários séculos; e era pífia,
em geral, a companhia. Foi melhor,
em parte, a adolescência, pela delícia
do pressentimento da felicidade
na malícia, na molícia, na poesia,
no orgasmo; e pelos livros e amizades.
Um dia, apaixonado, encarei a minha
morte: e eis que ela não sustentou o olhar
e se esvaiu. Desde então é a morte alheia
que me abate. Tarde aprendi a gozar
a juventude, e já me ronda a suspeita
de que jamais serei plenamente adulto:
antes de sê-lo, serei velho. Que ao menos
os deuses façam felizes e maduros
Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos.
Mark Rothko |
Desejo
Só o desejo não passa
e só deseja o que passa
e passo meu tempo inteiro
enfrentando um só problema:
ao menos no meu poema
agarrar o passageiro.
Mark Rothko |
O fim da vida
Conheci da humana lida
a sorte:
o único fim da vida
é a morte
e não há, depois da morte,
mais nada.
Eis o que torna esta vida
sagrada:
ela é tudo e o resto, nada.
Mark Rothko |
3h47
Bem que Horácio dizia
preferir dormir bem
a escrever poesia.
Uma delícia os poemas de Cícero!
ResponderExcluirabraços,
Belas poesias do poeta Antônio Cícero.
ResponderExcluir