Alexandre O'Neill
Poema de Alexandre O Neill, do livro Poemas de divertimento com sinais ortográficos, 1960 |
Dois poemas do poeta português Alexandre O'Neill (1924-1986), publicados no livro “No Reino da Dinamarca”, de 1958.
Há palavras que
nos beijam
Há palavras que
nos beijam
Como se tivessem
boca.
Palavras de
amor, de esperança,
De imenso amor,
de esperança louca.
Palavras nuas
que beijas
Quando a noite
perde o rosto;
Palavras que se
recusam
Aos muros do teu
desgosto.
De repente
coloridas
Entre palavras
sem cor,
Esperadas
inesperadas
Como a poesia ou
o amor.
(O nome de quem
se ama
Letra a letra
revelado
No mármore
distraído
No papel
abandonado)
Palavras que nos
transportam
Aonde a noite é
mais forte,
Ao silêncio dos
amantes
Abraçados contra
a morte.
Autorretrato
O’Neill
(Alexandre), moreno português,
cabelo asa de
corvo; da angústia da cara,
nariguete que
sobrepuja de través
a ferida
desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de
tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho
triste e a testa iluminada)
o retrato moral
também tem os seus quês
(aqui, uma
pequena frase censurada..)
No amor? No amor
crê (ou não fosse ele O’Neill!)
e tem a
veleidade de o saber fazer
(pois amor não
há feito) das maneiras mil
que são a
semovente estátua do prazer.
Mas sofre de
ternura, bebe de mais e ri-se
do que neste
soneto sobre si mesmo disse…
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