Poesia sebastiana





Poesia sebastiana


São Sebastião

   Orides Fontela
As setas
- cruas - no corpo

as setas
no fresco sangue

as setas
na nudez jovem

as setas
- firmes - confirmando
a carne.

(In Helianto, 1973)

II

São Sebastião

     Rainer Maria Rilke

Como alguém que jazesse, está de pé,
sustentado por sua grande fé.
Como mãe que amamenta, a tudo alheia,
grinalda que a si mesma se cerceia.

E as setas chegam: de espaço em espaço,
como se de seu corpo desferidas,
tremendo em suas pontas soltas de aço.
Mas ele ri, incólume, às feridas.

Num só passo a tristeza sobrevém
e em seus olhos desnudos se detém,
até que a neguem, como bagatela,
e como se poupassem com desdém
os destrutores de uma coisa bela.

Tradução: Augusto de Campos

III

São Sebastião

     José Antônio Cavalcanti

Se eu acertasse tantos versos
quanto flechas no alvo,
as portas do Paraíso
estariam abertas à minha passagem.

Tendo todos os poemas
passado a metros do mínimo
aceitável,
capricho na mira
para ver se retiro
com extrema perícia
o brilho do teu nome
em carne viva..




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