Andrei Voznesenski
A
Preguiça
Abençoada preguiça,
que delícia de armadilha,
quando é tanta que
nem me levanto, nem durmo de novo.
Preguiça de atender o
telefone. Você o alcança, passando uma perna por cima de meu corpo,
ouço a sua voz
pertinho de mim, soando como um sino,
e meu estômago é
comprimido pelo seu ombro.
"Entradas?"
- diz você -"Que vão para o diabo. Ai, que preguiça!"
Dentro de nós a
lentidão dos dias mergulha na sombra,
A preguiça é o motor
do progresso. A chave para Diógenes é a preguiça.
Só o que sei é que
você é encantadora -
o resto é lixo.
Este mundo é feio? Dê
um jeito de ir levando.
Preguiça de ir pegar
o telegrama - passe-o por baixo da porta.
Preguiça de ir
jantar, preguiça de apagar a luz,
preguiça até de
terminar a frase:
hoje é segun...
Nesta estrada o mês
de junho,
bêbado, derramou-se:
sátiro com pés de
bode
descalços - e usando
shorts.
In Poesia Soviética. Tradução, seleção e
notas de Lauro Machado Coelho. São Paulo: Algol, 2007.
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