Movimento Suspeito

 


"Depois da excelente acolhida de Anarquipélago (2013), o autor nos apresenta Movimento suspeito, seu segundo livro de poemas. Se a viagem é a liga que enlaça existência e literatura, o poeta agora se afasta da miragem de ilhas e do sonho de ancorar-se a qualquer superfície, instala-se, com isso, paradoxalmente, na natureza  instável da procura, sem perder o vigor da obra de estreia, considerado por  Alberto Pucheu  “um livro de força e precisão. precisão de linguagem para o impreciso da vida, das anti-ilhas e anticidades”.

Palavras, lançadas como pedra ou sopro, movem mundos. De onde vem o vigor da linguagem que, expulsa da esfera da relevância, mantém aceso um movimento alheio a domínio e adestramento? De onde vem a potência corrosiva da palavra que se faz inaugural por simples deslocamento?  Antônio Miranda, poeta criador do Portal de Poesia Iberoamericana e leitor arguto, percebeu essa onda desestabilizadora:  “Mais do que uma surpresa, foi um susto a leitura do Anarquipélago (...). Metalinguagem pura, contaminando vida e literatura, mundo recriado ou inventado. “E se todo caminho for (clan)destino?” Desatino. Celebro o poeta e compartilho seus (ad)versos com nossos leitores: “A escrita / um corpo/ quase,/ devassa,/ devastação.”

Em Movimento suspeito, pele e linguagem seguem coladas na angustiada e angustiante linha de busca do inapreensível, sem temer a linha de aproximação ou afastamento entre poema e poesia, a incursão à zona limítrofe entre linguagem e  silêncio, os abismos.

O título nos remete à propriedade poética mais incômoda, a de subversão e  realinhamento de signos, o dizer livre da submissão do poema a qualquer ordem instituída — “o inservível / livre de servidão / ilumina / a linguagem”. 

Em Ìon, Platão valeu-se de Sócrates para rebaixar o trabalho poético à atividade menor: “Pois coisa leve é o poeta, e alada e sacra, e incapaz de fazer poemas antes que se tenha tornado entusiasmado e ficado fora de seu juízo e o senso não esteja mais nele”. A marca da suspeita, assim,  foi impressa na testa da linguagem que escapa a enquadramentos. 

Para o poeta, no entanto,  o importante é “buscar o que as mãos / não alcançam, / o que os olhos / não veem, o que a mente / sequer consegue imaginar”. Tenho certeza de que o leitor sairá enriquecido ao participar também deste Movimento suspeito."

Texto da orelha do livro Movimento suspeito, de José Antônio Cavalcanti


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