Derek Walcott




Um dos grandes poetas caribenhos, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1992, Derek Walcott, morreu em sua  aos 87 anos, em sua ilha natal, em 17/03/2017.
Poeta, dramaturgo e ensaísta, nasceu em 1930, em Castries, na ilha de Santa Lucia. Formou-se na Universidade das Índias Ocidentais, na Jamaica, e em 1957 obteve uma bolsa para estudar teatro nos Estados Unidos. Viveu em Londres e em Trinidad. Durante alguns anos dividiu seu tempo entre a ilha de Santa Lucia e os Estados Unidos, onde lecionou nas Universidade de Harvard e de Boston até se aposentar.
No Brasil, que eu saiba, só temos um livro dele, Omeros, publicado pela Companhia das Letras, em 2011.


Sea Grapes *

That sail which leans on light,
tired of islands,
a schooner beating up the Caribbean

for home, could be Odysseus,
home-bound on the Aegean;
that father and husband's

longing, under gnarled sour grapes, is
like the adulterer hearing Nausicaa's name
in every gull's outcry.

This brings nobody peace. The ancient war
between obsession and responsibility
will never finish and has been the same

for the sea-wanderer or the one on shore
now wriggling on his sandals to walk home,
since Troy sighed its last flame,

and the blind giant's boulder heaved the trough
from whose groundswell the great hexameters come
to the conclusions of exhausted surf.

The classics can console. But not enough.

In Collected poems, 1948-1984


* Referência a um tipo de uva natural do Caribe de gosto particularmente amargo e azedo.


Tradução de José Antônio Cavalcanti


Uvas marinhas

Essa vela que se inclina para a luz,
cansada de ilhas,
uma escuna navegando no Caribe

rumo a casa, poderia ser Ulisses,
atravessando o Egeu,
esse pai e  marido

ansioso, sob acres uvas amassadas, é como
o adúltero que ouve o nome de Nausícaa
em cada grasnido de gaivota.

Isto não acalma ninguém. A velha guerra
entre o dever e a obsessão jamais
terminará, sempre tem sido a mesma

para o navegante ou para o homem que na costa
agora arrasta as sandálias de volta ao lar,
depois de Troia expirar sua última chama,

e a rocha do gigante cego ter levantado a onda
de onde vêm os grandes hexâmetros
a fim de cessar a rebentação exausta.

Os clássicos podem nos consolar. Mas não o bastante.

Comentários