Emily Dickinson
Toda vez que me lembro de Emily Dickinson parece que a estou vendo se mover arrastando vestido de camadas de reclusão por todos os cômodos de casa abastada em Massachusetts, livro de algum poeta metafísico na mão esquerda, a direita no ar, como se soltasse algum pássaro da prisão, mas a imagem do reverendo Charles Wadsworth faz com que abandone a leitura e fuja dos meus pensamentos. Já publiquei a tradução deste poema feita por Ivo Bender (aqui), agora acrescento a de Manuel Bandeira.
I died for Beauty – but was scarce
Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In an adjoining Room –
He questioned softly “Why I failed”?
“For Beauty”, I replied –
“And I – for Truth – Themself are One –
We Brethren, are”, He said –
And so, as Kinsmen, met a Night –
We talked between the Rooms –
Until the Moss had reached our lips –
And covered up – our names –
Tradução de Manuel Bandeira
Morri pela beleza, mas estava apenas
No sepulcro acomodada
Quando alguém que pela verdade morrera
Foi posto na tumba ao lado.
Perguntou-me, baixinho, o que me matara:
“A Beleza”, respondi.
“A mim, A Verdade – são ambas a mesma coisa,
Somos irmãos.”
E assim, como parentes que certa noite se encontram,
Conversamos de jazigo a jazigo,
Até que o musgo alcançou nossos lábios
E cobriu os nossos nomes.
In Pensamento da América, nº 12, suplemento de A Manhã, RJ, 20 de dezembro de 1942
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