Sor Juana Inês de la Cruz
Sor Juana Inês de la Cruz (1648-1695) não pertenceu à nobreza nem possuía recursos. Avessa à ideia de casamento, refugiou-se no Convento das Jerônimas a fim de dar vazão ao que realmente desejava: entregar-se ao reino das palavras, tarefa a que se dedicou até ser obrigada a renunciar às letras pela hierarquia religiosa.
“Ela não opta por ser freira, mas opta por não ser esposa”, afirma Teresa Cristófani Barreto, tradudora e organizadora do livro Letras no espelho.
146
Quéjase de la suerte: insinúa su aversión a los vicios, y justifica su divertimento a las Musas.
En perseguirme, Mundo ¿qué interesas?
¿En qué te ofendo, cuando sólo intento
poner bellezas en mi entendimiento
y no mi entendimiento en las bellezas?
Yo no estimo tesoros ni riquezas:
y así, siempre me causa más contento
poner riquezas en mi pensamiento
que no mi pensamiento en las riquezas.
Y no estimo hermosura que, vencida,
es despojo civil de las edades,
ni riqueza me agrada fementida,
teniendo por mejor, en mis verdades,
consumir vanidades de la vida
que consumir la vida en vanidades.
* * *
Tradução de Teresa Cristófani Barreto
Queixa-se da sorte; insinua sua aversão aos vícios e justifica seu devotamento às musas.
Em perseguir-me, Mundo, que interessas?
Em que te ofendo, quando só intento
pôr belezas em meu entendimento,
não meu entendimento nas belezas?
Eu não amo tesouros nem riquezas;
e assim há sempre mais contentamento
em mui riquezas pôr no pensamento
que pôr meu pensamento nas riquezas.
Não estimo a formosura que, vencida,
é despojo mundano das idades,
nem riqueza me agrada fementida,
vendo como melhor e por verdades,
consumir as vaidades desta vida
que consumir a vida nas vaidades.

Comentários
Postar um comentário