7 x Paul Celan


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As traduções são de Flávio R. Kothe.

* * *

Eras a minha morte:
a ti eu podia reter
quando tudo me desertava.

* * *

Forças, poderes

Atrás disso, no bambuzal:
lepra latindo, sinfônica.

A presenteada orelha
de Vincent
chegou a seu destino.

* * *

A mim, que estou afogando, ofereces
ouro:
um peixe talvez se deixe
subornar.

* * *

O que tanto te amarga
lá por dentro?

As grandes solidões
duendizam
no hino à beira-som,

beatíficas
as algemas cochicham
nos álacres
ápices da tortura,

as decisivas
pausar
recebem
adendos,

na câmara de cálculo,
rebeldes,
os anéis adoram
o resto.

* * *

O hóspede

Bem antes da noite
te visita alguém que saudou o obscuro.
Bem antes do dia
ele acorda
e ativa, antes de partir, um sono,
um sono ressoando passos:
ficas a ouvi-lo mensurando distâncias,
e é bem lá que lanças tua alma.

* * *

Cristal

Não em meus lábios busque tua boca,
não diante do portão o estranho,
não no olho a lágrima.

Sete noites acima migra rubro a rubro,
sete corações abaixo bate a mão no portão,
sete rosas após rumoreja o poço.

* * *

Uma vez estando a Morte repleta de clientes,
tu em mim te abrigaste.


Os poemas foram retirados dos livros (todos traduzidos por Flávio R. Kothe)::
Hermetismo e hermenêutica - Paul Celan - Poemas I. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; São Paulo Instituto Hans Staden, 1977.
Hermetismo e hermenêutica - Paul Celan - Poemas II. Poemas II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; São Paulo Instituto Hans Staden, 1965.
A poesia hermética de Paul Celan - Brasília: UnB, 2016.

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