Adília Lopes
Três poemas de Adília Lopes
* * *
A minha Musa antes de ser
a minha Musa avisou-me
cantaste sem saber
que cantar custa uma língua
agora vou cortar-te a língua
para aprenderes a cantar
a minha Musa é cruel
mas eu não conheço outra
a minha Musa avisou-me
cantaste sem saber
que cantar custa uma língua
agora vou cortar-te a língua
para aprenderes a cantar
a minha Musa é cruel
mas eu não conheço outra
Clarice Liespector
Clarice Lispector,
a senhora não devia
ter-se esquecido
de dar de comer aos peixes
andar entretida
a escrever um texto
não é desculpa
entre um peixe vivo
e um texto
escolhe-se sempre o peixe
vão-se os textos
fiquem os peixes
como disse Santo António
nos textos
Meteorológica
para o José Bernardino
Deus não me deu
um namorado
deu-me
o martírio branco
de não o ter
Vi namorados
possíveis
foram bois
foram porcos
e eu palácios
e pérolas
Não me queres
nunca me quiseste
(porquê, meu Deus?)
A vida
é livro
e o livro
não é livre
Choro
chove
mas isto é
Verlaine
Ou: um dia
tão bonito
e eu
não fornico
Adilia - você é uma boa menina! Vai pro céu! Mas lá, sei lá, com o Seu Pedro, apresentar palavras tão aladas, alarmantes, palavras tão putas em sua virgindade, sei não.... Talvez Seu Pedro vá consultar Hilda Hiltz.
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