Antônio Carlos Secchin


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 Antônio Carlos Secchin é Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1982). Professor de Literatura Brasileira das Universidades de Bordeaux, (1975-1979), Roma (1985), Rennes (1991), Mérida (1999) Paris III-Sorbonne Nouvelle (2009) e da Faculdade de Letras da UFRJ, onde foi aprovado (1993), por unanimidade, com nota máxima, em concurso público para professor titular. Na carreira docente, foi diversas vezes eleito paraninfo e  patrono dos formandos. Orientou 26 dissertações de mestrado e 18 teses de doutorado. Ministrou 50 cursos de pós-graduação, no país e no exterior. Em 2013, tornou-se professor emérito da UFRJ. Membro da ABL desde 2004.

Total de 16 prêmios nacionais, destacando-se: 1.lugar, categoria “ensaio”, do Instituto Nacional do Livro (1983); Prêmio Sílvio Romero, da Academia Brasileira de Letras, 1985, ambos para João Cabral: a Poesia do Menos; Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional (2002); Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras (2003); Prêmio Nacional do PEN Clube do Brasil (2003), atribuídos a Todos os Ventos como melhor livro de poesia.

Livros de poesia: A Ilha. Rio de Janeiro: edição do autor, 1971 (plaquete fora do comércio) / Ária de Estação. Rio de Janeiro: São José, 1973 / Elementos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983 / Diga-se de Passagem. Rio de Janeiro: Ladrões do Fogo, 1988/ Poema para 2002. Rio de Janeiro: Cacto Arte e Ciência, 2002 (livro-objeto fora do comércio, tiragem de 50 exemplares) / Todos os Ventos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002 / Todos los Vientos. Traducción de Yhana Riobueno. Mérida: Ediciones Gitanjali, 2004./ Todos os Ventos. Vila Nova de Famelicão: Edições Quasi, 2005./ 50 Poemas Escolhidos pelo Autor. Rio de Janeiro: Galo Branco, 2006./ Eus & Outras. Porto Alegre: Simplíssimo Livros Ltda., 2013. Desdizer. Rio de Janeiro: TopBooks, 2017.

Fonte: Academia Brasileia de Letras.


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Autorretrato

A Flávia Amparo
Um poeta nunca sabe
onde sua voz termina,
se é dele de fato a voz
que no seu nome se assina.
Nem sabe se a vida alheia
é seu pasto de rapina,
ou se o outro é que lhe invade,
numa voragem assassina.
Nenhum poeta conhece
esse motor que maquina
a explosão da coisa escrita
contra a crosta da rotina.
Entender inteiro o poeta
é bem malsinada sina:
quando o supomos em cena,
já vai sumindo na esquina,
entrando na contramão
do que o bom senso lhe ensina.
Por sob a zona da sombra,
navega em meio à neblina,
mesmo que ele nem veja
a poesia que o ilumina.

Receita de poema
Um poema que desaparecesse
à medida que fosse nascendo,
e que dele nada então restasse
senão o silêncio de estar não sendo.
Que nele apenas ecoasse
o som do vazio mais pleno.
E depois que tudo matasse
morresse do próprio veneno.

Artes de amar

paixão e alpinismo
sensação simultânea
de céu e abismo

paixão e astronomia
mais do que contar estrelas
vê-las
à luz do dia

amor antigo e matemática
equação rigorosa:
um centímetro de poesia
dez quilômetros de prosa



Linguagens

Percebi que o vôo negro dessa hipálage
beijava o mel dos lábios da metáfora,
e mais beijara, se não fora a enálage,
e mais revoara, se não fosse a anáfora.

Chorei mil mares profundos de hipérbole,
duas velas cortaram a metonímia,
enquanto o pé da catacrese andava
no compasso bem toante dessa rima.

Verteu prantos a anímica floresta,
mas nós entramos dentro do pleonasmo,
'stamos em pleno oceano de uma aférese...

Vai-se o expletivo, mais um e outro mais...
Os poetas, nós somos muito silépticos;
mas os poemas, elípticos demais.


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