Marc Chagall


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Um poema de Marc Chagall (1887-1985) traduzido por Manuel Bandeira.

Seul est mien le pays qui se trouve dans mon âme

Seul est mien
Le pays qui se trouve dans mon âme
J’y entre sans passeport
Comme chez moi
Il voit ma tristesse
Et ma solitude
Il m’endort
Et me couvre d’une pierre parfumée

En moi fleurissent des jardins
Mes fleurs sont inventées
Les rues m’appartiennent
Mais il n’y a pas de maisons
Elles ont été détruites dès l’enfance
Les habitants vagabondent dans l’air
A la recherche d’un logis
Ils habitent mon âme

Voilà pourquoi je souris
Quand mon soleil brille à peine
Ou je pleure
Comme une légère pluie dans la nuit

Il fut un temps où j’avais deux têtes
Il fut un temps où ces deux visages
Se couvraient d’une rosée amoureuse
Et fondaient comme le parfum d’une rose

A présent il me semble
Que même quand je recule
Je vais en avant
Vers un haut portail
Derrière lequel s’étendent des murs
Où dorment des tonnerres éteints
Et des éclairs brisés

Seul est mien
Le pays qui se trouve dans mon ame


In Poèmes. Genève, CH: Cramer Editeur, 1975. p. 129.


* * *
      Tradução de Manuel Bandeira

Só é meu o país que trago dentro da alma

Só é meu
O país que trago dentro da alma.
Entro nele sem passaporte
Como em minha casa.
Ele vê a minha tristeza
E a minha solidão.
Me acalanta.
Me cobre com uma pedra perfumada.

Dentro de mim florescem jardins.
Minhas flores são inventadas.
As ruas me pertencem
Mas não há casas nas ruas.
As casas foram destruídas desde a minha infância.
Os seus habitantes vagueiam no espaço
À procura de um lar.
Instalam-se em minha alma.

Eis porque sorrio
Quando mal brilha o meu sol.
Ou choro
Como uma chuva leve na noite.

Houve tempo em que eu tinha duas cabeças.
Houve tempo em que essas duas caras
Se cobriam de um orvalho amoroso.
Se fundiam como o perfume de uma rosa.

Hoje em dia me parece
Que até quando recuo
Estou avançando para uma alta portada
Atrás da qual se estendem muralhas
Onde dormem trovões extintos
E relâmpagos partidos.

Só é meu
O mundo que trago dentro da alma.

  


In ANDEIRA, Manuel. Antologia poética. 6. ed. Rio de Janeiro: Sabiá, 1961. p. 212.

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