Nazim Hikmet
Nazim
Hikmet foi o mais importante poeta turco do século
passado. No Brasil, só tenho conhecimento do livro Paisagens humanas do meu país, traduzido por Marco Syrayama de
Pinto em 2015 para a Editora 34.
O mar mais bonito:
é aquele que não foi
descoberto ainda.
A criança mais
bonita:
não cresceu ainda.
Nossos melhores dias:
são aqueles que não
vivemos ainda.
A palavra mais bonita
que quero lhe dizer:
é aquela que não
disse ainda...
*
* *
Eles são inimigos da
esperança, meu amor,
são inimigos da água
corrente,
da árvore que está
frutificando,
da vida que está se
desenvolvendo.
Porque a morte
carimbou a testa deles:
– dentes apodrecendo,
carne se deteriorando –,
vão ser destruídos e
nunca mais voltarão.
E sem dúvida, meu
amor, sem dúvida,
a liberdade caminhará
livremente neste país lindo
com a sua melhor
roupa:
o uniforme de
operário...
*
* *
Estás cansado de
carregar meu peso
Estás cansado das minhas mãos
Dos meus olhos da minha sombra
Minhas palavras eram incêndios
Poços eram as minhas palavras
Um dia virá de repente, virá um dia
Sentirás o peso das pegadas dos meus passos
E te afastarás das pegadas dos meus passos
E esse peso será o mais difícil para todos.
Estás cansado das minhas mãos
Dos meus olhos da minha sombra
Minhas palavras eram incêndios
Poços eram as minhas palavras
Um dia virá de repente, virá um dia
Sentirás o peso das pegadas dos meus passos
E te afastarás das pegadas dos meus passos
E esse peso será o mais difícil para todos.
*
* *
Nostalgia
Cem anos se passaram sem ver teu rosto
enlaçar tua cintura
deter-me em teus olhos
perguntar à tua clarividência
ou aproximar-me do calor de teu ventre.
Faz 100 anos que em uma cidade
uma mulher me espera.
Estávamos na mesma rama, na mesma rama.
Caímos da mesma rama, nos separamos.
Cem anos nos separam
cem anos de caminho.
Faz cem anos que na penumbra
corro atrás dela.
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