Laura Erber
Poesia Brasileira do Século XXI - 17
"As imagens
significam tudo a princípio. São sólidas. Espaçosas".
- Heiner Müller
- Heiner Müller
Os poemas são meio
surdos e as imagens a princípio
não são de ninguém. O olho é que inflama. A imagem
chuvisca. Os poemas também mas a imagem arrisca.
O poema incendeia, reconsidera, desiste. Nem a espiral
de um ponto de vista ardentemente perseguido nem grãos
de luz sem destino. O olhar exploratório ainda não é a
imagem. Os poemas são sapatos. As imagens emborcam.
Os poemas são ardências, são porradas. Imagens não
perdoam, o poema trespassa. A palavra rompe a mordaça,
a imagem nem sempre resvala, espera. O poema diz
em nome próprio no parco som das cordaturas.
O espaçamento nos libertará do duplo laço? Mas isso
ainda não é o poema. A imagem regateia. Os poemas
persistem. Abelhas e todo um mundo a ser envenenado.
Imagens duplicam antigas provas de existência.
São escamosas, são amargas, são Medeias. Os poemas
são cansaços. As imagens apodrecem. Os poemas são
incensos, esvoaçam. Poemas ofendem. Imagens acusam.
Epifania é um encontro na luz, uma imagem pode ser
isso e ser também o seu contrário. O poema alastra.
A imagem recua. O poema excita. A palavra é gasta,
a imagem encrua. A imagem puxa o corpo pelos cabelos,
o poema, o punho o logro. No poema eu respiro contigo.
A imagem é sempre outra coisa. O poema vela.
As imagens nos despojam do sudário. Tudo começa
numa cova ou na chispa do artifício. A imagem trincha,
o poema entumesce. Acontece no silêncio de uma
imagem ser escudo. O poema é de plástico. A imagem
suborna, é o floema, o influxo, o caldo. Nem todo
desenho é imagem. O arco do poema enverga a prosa.
A imagem transtorna, vem no vento que espalha os papéis.
O poema glosa. O poema é uma devassa, desce pelas coxas
enquanto a imagem diz vem, é agora. O poema na sombra
das coisas. A imagem cheia de moscas. Vem, é agora.
não são de ninguém. O olho é que inflama. A imagem
chuvisca. Os poemas também mas a imagem arrisca.
O poema incendeia, reconsidera, desiste. Nem a espiral
de um ponto de vista ardentemente perseguido nem grãos
de luz sem destino. O olhar exploratório ainda não é a
imagem. Os poemas são sapatos. As imagens emborcam.
Os poemas são ardências, são porradas. Imagens não
perdoam, o poema trespassa. A palavra rompe a mordaça,
a imagem nem sempre resvala, espera. O poema diz
em nome próprio no parco som das cordaturas.
O espaçamento nos libertará do duplo laço? Mas isso
ainda não é o poema. A imagem regateia. Os poemas
persistem. Abelhas e todo um mundo a ser envenenado.
Imagens duplicam antigas provas de existência.
São escamosas, são amargas, são Medeias. Os poemas
são cansaços. As imagens apodrecem. Os poemas são
incensos, esvoaçam. Poemas ofendem. Imagens acusam.
Epifania é um encontro na luz, uma imagem pode ser
isso e ser também o seu contrário. O poema alastra.
A imagem recua. O poema excita. A palavra é gasta,
a imagem encrua. A imagem puxa o corpo pelos cabelos,
o poema, o punho o logro. No poema eu respiro contigo.
A imagem é sempre outra coisa. O poema vela.
As imagens nos despojam do sudário. Tudo começa
numa cova ou na chispa do artifício. A imagem trincha,
o poema entumesce. Acontece no silêncio de uma
imagem ser escudo. O poema é de plástico. A imagem
suborna, é o floema, o influxo, o caldo. Nem todo
desenho é imagem. O arco do poema enverga a prosa.
A imagem transtorna, vem no vento que espalha os papéis.
O poema glosa. O poema é uma devassa, desce pelas coxas
enquanto a imagem diz vem, é agora. O poema na sombra
das coisas. A imagem cheia de moscas. Vem, é agora.
In A
retornada. Belo Horizonte: Relicário Edições, 2017, p, 11.
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