Três poemas de Natália Correia
Retrato
talvez saudoso da menina insular
Tinha o tamanho da
praia
o corpo era de areia.
E ele próprio era o início
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.
o corpo era de areia.
E ele próprio era o início
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.
E quando as mãos se
estenderam
a todo o seu comprimento
e quando os olhos desceram
a toda a sua fundura
teve o sinal que anuncia
o sonho da criatura.
a todo o seu comprimento
e quando os olhos desceram
a toda a sua fundura
teve o sinal que anuncia
o sonho da criatura.
Largou o sonho nos
barcos
que dos seus dedos partiam
que dos seus dedos paisagens
países antecediam.
que dos seus dedos partiam
que dos seus dedos paisagens
países antecediam.
E quando o seu corpo
se ergueu
voltado para o desengano
só ficou tranquilidade
na linha daquele além.
Guardada na claridade
do olhar que a retém.
voltado para o desengano
só ficou tranquilidade
na linha daquele além.
Guardada na claridade
do olhar que a retém.
Verdadeira litania para os tempos da revolução
Mário nós não somos todos burgueses
os gatos e os ratos se quiseres,
os literatos esses são franceses
e todos soletramos malmequeres.
Da vida o verbo intransitivo
não é burguês é ruim;
e eu que nas nuvens vivo
nuvens! O que direi de mim?
Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.
Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses Mário
o que nós somos todos é sebastianistas.
Cosmocópula
I
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
II
O corpo é praia
a boca é a
nascente
e é na vulva que
a areia é mais sedenta
poro a poro vou
sendo o curso de
água
da tua língua
demasiada e
lenta
dentes e unhas
rebentam como
pinhas
de carnívoras plantas
te é meu ventre
abro-te as coxas e
deixo-te crescer
duro e cheiroso como o
aloendro
a boca é a
nascente
e é na vulva que
a areia é mais sedenta
poro a poro vou
sendo o curso de
água
da tua língua
demasiada e
lenta
dentes e unhas
rebentam como
pinhas
de carnívoras plantas
te é meu ventre
abro-te as coxas e
deixo-te crescer
duro e cheiroso como o
aloendro
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